Partidos começam a se afastar do governo Lula e cenário lembra reviravolta de 2018

Lula


A recente movimentação no Congresso Nacional acendeu um alerta no Palácio do Planalto: partidos do centrão e da base governista já demonstram sinais de distanciamento político do governo Lula, em um cenário que começa a lembrar o que ocorreu nas eleições de 2018, quando várias legendas abandonaram o então grupo majoritário para se alinhar ao bolsonarismo em ascensão.

Nos últimos dias, esse reposicionamento ganhou corpo com a condução do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). Mesmo considerado próximo ao governo e apoiado por setores tanto da esquerda quanto da direita para chegar ao comando da Casa, Motta tem adotado uma postura cada vez mais independente. Após recusar pautar a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro — o que gerou fortes críticas da direita —, o deputado surpreendeu ao pautar e aprovar no Congresso a derrubada do veto ao aumento do IOF, desagradando agora setores do próprio governo e da esquerda.

O episódio evidencia não apenas o perfil pragmático de Hugo Motta, mas também a fragilidade da coesão política em torno de Lula. Se, até pouco tempo atrás, o governo contava com maioria sólida no Congresso, as últimas semanas mostram uma realidade distinta: os partidos que compõem o centrão — PP, Republicanos, PSD, União Brasil — já demonstram desconforto com o impacto político de permanecerem atrelados a um governo cuja popularidade vem sendo desgastada por decisões impopulares, baixo crescimento econômico e ruídos na articulação política.

Hugo Motta e a balança política

A condução de Hugo Motta na presidência da Câmara tem sido vista por analistas como o reflexo de um Congresso que busca se descolar da polarização. Apesar de ter recebido apoio do governo para sua eleição ao comando da Casa, Motta tem se mostrado disposto a contrariar o Planalto em pautas econômicas e simbólicas, num movimento que sugere reposicionamento estratégico para 2026.

O próprio Motta afirmou recentemente que "quem governa com base no ‘nós contra eles’ acaba governando contra todos”, numa crítica implícita à condução do governo federal. O recado foi claro: a fidelidade do centrão à gestão Lula não é garantida.

Sinais de ruptura

A movimentação do PP é um dos exemplos mais claros do possível afastamento. Lideranças da sigla já falam abertamente sobre a necessidade de "reposicionar o partido" diante do cenário político atual. Embora muitos desses partidos tenham ocupado espaços estratégicos no governo, a aproximação com Lula é vista por setores mais conservadores como um ônus político para 2026.

O cenário lembra, em muitos aspectos, o que ocorreu em 2018, quando siglas do centrão, historicamente alinhadas ao governo de então, romperam com o campo lulista e aderiram à onda conservadora que elegeu Jair Bolsonaro. À época, essa guinada foi decisiva para o resultado eleitoral em diversas regiões do país.

Agora, com a base de Lula enfraquecida e o desgaste crescente da imagem do governo, há quem veja no centrão uma nova movimentação tática — não mais de sustentação, mas de preparação para uma possível transição de apoio rumo a um projeto alternativo em 2026.

Caminho aberto para novas alianças

Apesar de ainda contar com parte do Congresso, o governo Lula já enfrenta dificuldades para manter controle da pauta legislativa. A aprovação do veto ao IOF é simbólica não apenas pelo conteúdo fiscal, mas pela demonstração de força dos deputados que, até então, integravam a base aliada.

A mensagem é clara: o centrão já não se sente preso ao projeto lulista. E, como ocorreu em ciclos anteriores da política brasileira, as alianças começam a se redesenhar com base no termômetro das ruas, nas pesquisas e na perspectiva eleitoral futura.

O cenário que se forma indica que os mesmos partidos que ajudaram a sustentar Lula no início do mandato já cogitam desembarcar do governo, replicando o que foi visto em 2018. O sinal foi dado. Resta saber se a história irá, mais uma vez, se repetir.

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